domingo, 30 de agosto de 2009

Logicamente

Apesar de alucinar, o pensamento evita em muitos casos o sofrimento. Bem dizia minha avó: "Quando a cabeça não pensa, o corpo padece". O raciocínio lógico, desprovido de emoções, que permite a construção de naves espaciais e a confecção de bolas de golfe, principalmente, é um dos maiores narcóticos do mundo. E evita o sofrimento.

Usando a mente, não o coração, chegamos a lua. E chegando na lua, nosso coração acelerou. Talvez por isso ainda estejamos na Terra, almejando o espaço. Deixamos o pensamento lógico por uma paixão.

Dizem que a paixão é uma coisa boa. Faz a vida pesar menos e o coração mais. Mas mais do que isso: faz a gente esquecer do pensamento lógico. Diante do objeto que desperta esse arrepio na beira da espinha, o frio no estômago e febre interna, esquecemos toda lógica. É impossível somar ou subtrair, quiçá dividir ou multiplicar.

Agora chegamos ao ponto: para não sofrer, precisamos pensar. Para não sermos vítimas da paixão, precisamos da lógica. Só ignoramos novamente o fato de que o tórax é maior que a cabeça, e que quando ele lateja, a lógica se dispersa. Se perde em algum lugar do eu. E o corpo começa a padecer.

Ausência de fome, falta de sono, excesso de euforia, histeria, nostalgia e muitas outras coisas com o sufixo "ia" que só quem já sentiu entende.

Deixe o corpo para lá, ele vai padecer mesmo. Com o tempo, com a morte, e principalmente, com a vida. Fique com a mente. Ou pelo menos, tente.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

A cabeça e o tórax

A pessoa que um dia disse que era fácil gostar de alguém estava embriagada. É bem difícil. Principalmente com a convivência diária, com as conveniências, com os defeitos latentes e aquelas coisas feitas somente para irritar.

Sábio é o que disse que não dá para mandar no coração. Esse sim merecia todos os louros e citações em todos os livros. Aliás, essa metáfora de coração veio bem a calhar. Porque quando dói de verdade, é nele, é bem no centro do peito, aquele aperto enorme que faz a gente se esquecer de como se respira.

Até pouco tempo, era muito fácil. Gosta ou não gosta. Daí nós crescemos, aprendemos a conviver com as diferenças. Você começa gostando, acha que deixou de gostar, mas para sempre vai gostar. Mesmo não gostando de gostar do jeito que gosta.

E deixar de gostar leva tempo. Mais do que gostar. Tem coisa que a gente nem precisa ver para saber que gosta. Ou ver uma vez, e pronto, gostar demasiadamente. Mas e aquelas que a gente gosta há tanto tempo? E por alguma razão precisamos deixar de gostar. E como disse Proust: "Quando a dor acaba questionamos se realmente amamos". Mas amamos. De uma forma fraternal, sem febre e sem aquela angústia típicamente jovem, mas que vem em qualquer idade.

Quanto tempo leva até dar o tempo certo? E quando dá certo, como sabemos? O certo pode ser temporário?

Pense. Cá fico eu, pensando também.

Mas deixo a dica: o tórax é maior que a cabeça porque aguenta mais dores.